sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Aquele momento…

Foi em Lisboa…
Foi naquela noite de Novembro em que uma enorme Lua decidiu desenhar, na superfície serena das águas do Rio Tejo, um tapete de luz branca e intensa, apenas recortado pela ondulação de uma embarcação que, lentamente, seguia em direcção à cidade…
Foi naquele concerto em que milhares de corpos se agitavam ao ritmo da melodia…
Foi naquela música…
Foi naquele momento…

…em que, por qualquer razão, a tua consciência se apagou…e todos te sentimos, lentamente, adormecer.

Reagi!...sim, e de imediato acompanhei a tua descida, suavizando a tua queda no chão, frio e sujo, daquela sala a borbulhar de energia e emoção.

Quando os nossos corpos finalmente terminaram aquela viagem, e te observei inanimada, tudo à minha volta se tornou insignificante…silencioso…em que apenas consegui ouvir, muito ao longe, ecos confusos de vozes e de música.

Sem hesitações peguei em ti e delicadamente transportei o teu corpo, desfalecido, à procura de uma possível ajuda.

Durante aqueles metros de preocupação, distância que parecia nunca mais terminar, amparei, no meu ombro, o teu rosto…a tua cabeça “perdida”…e senti!...senti aqueles cabelos suaves e belos…senti uma lenta e quente respiração no meu pescoço.

Um sentimento estranho, talvez de egoísmo, apoderou-se de mim. Eu não queria que aquele momento tivesse um fim! Queria eternizar, na história da minha existência, a tua e a minha momentânea fragilidade…o calor do teu corpo…a agitação do teu coração…aquele nosso “momento íntimo”. Queria ser eu, e apenas eu, a proteger-te!

Mas a realidade era bem diferente, tinha que ser. Entreguei-te a quem te poderia ajudar fisicamente…mas, hoje confesso, foi difícil desfazer-me de ti.
Na nossa despedida “silenciosa”, antes de entrares na “viatura da esperança”, ainda tive tempo de segurar, por momentos, na tua mão…e segredar-te em pensamentos: “Não tenhas medo…agora vai correr tudo bem”.

Como resposta, um discreto sorriso pareceu ter saído do teu sono profundo, provavelmente escapando-se por momentos a um dos teus sonhos, apenas para me dizer algo que eu, naquele instante, gritava por ouvir.

Partiste rapidamente, serpenteando pelas ruas “atarefadas” da cidade. Ainda te persegui mentalmente…até o som da sirene se tornar em mais um dos ruídos da metrópole.

Passados alguns anos regressei à mesma sala, ao mesmo concerto…e…na mesma música, no mesmo momento…senti um corpo, os sons transformaram-se em ecos longínquos, uma mão tocou na minha pele, luzes de várias cores iluminavam freneticamente o público, senti aquela respiração quente a percorrer o meu pescoço, mais à frente um casal trocava carinhos inocentes, senti um aroma inesquecível…intemporal, na confusão alguém gritava por uma determinada música, ouvi uma voz desconhecida, mas facilmente identificável, que me disse ao ouvido: “Eu estou bem”…um enorme encontrão, provocado por aquela sala…provocado por aquela massa de corpos, atirou-me ao chão.

Atordoado, levantei-me à tua procura. E, no meio daquele caos mágico, ainda consegui ver, por momentos, aqueles mesmos cabelos compridos, que anos antes tocaram o meu rosto, desaparecerem no meio da multidão.
Sorri…e senti novamente a música…no instante em que se cantava…

“I
I was standing
You were there
Two worlds collided
And they could never tear us apart”

Lá fora, uma enorme Lua voltava a projectar, no Tejo, a mesma linha de luz…como que a querer dizer…”Os momentos especiais…belos…sempre se repetem”.


Baseado num acontecimento verídico…


“Continuem a frequentar estas areias…”

5 comentários:

Anónimo disse...

Nossa...realmente de tirar o folego, que lindo, que romântico, que poético.
Você converte muito bem sentimentos em palavras.
Simplesmente amei.
Bjs
Viviane

Pedrinho disse...

Obrigado, Vivi.
bjos

Anónimo disse...

Jovem,

És um poeta!

Venha de lá outro texto.
Abraço

Tiago Simões disse...

Só podias estar a falar deste texto.
Está excelente e nós, os que consideras escritores, ainda teremos muito a aprender contigo. E eu tenho ainda que disciplinar-me e aprender a colocar nalgum sítio os meus pensamentos e ideias.
Parabéns!

Caroline Carvalho disse...

nossa simplismente tocante,penetrante, inigmatico amei em tudo ate me emocioni vc é um poeta nato rapaz...
muito sublime parabéns...
bjs