terça-feira, 6 de outubro de 2009

Domingo na minha avenida

Domingo…

Por fim, a muito custo, lá decidi sair de casa ao final da tarde para passear um pouco pela “minha avenida”. Acredito que esta “penosa” decisão se tenha devido também a um esforço interior para manter uma aparência, continuar uma mentira. Talvez…

A aventura citadina, com cerca de 20 minutos de duração, não correu muito bem.

Começou com uma ambulância amarela (mais uma razão para o amarelo não ser das minhas cores de eleição).
Caminhava eu calmamente pela típica calçada portuguesa de Lisboa, envolvido nos meus pensamentos, alienado do mundo, quando esta viatura, no exacto momento em que passa por mim, decide dar sinal da sua existência da pior forma possível. Resolve ligar, de repente, o seu sistema sonoro de emergência.
Para quem está apenas em modo mental, acreditem, esta é a pior forma de voltar à realidade.
O susto que me provocou foi enorme! Não estava minimamente preparado para aquela explosão sonora.
Fiquei de tal forma irritado que só me apeteceu correr atrás dela, colocar-me na sua frente e, como um dos muitos “loucos de Lisboa”, sovar desvairadamente o “corpo” desta “emergência médica” e gritar bem alto para ela me ouvir…”Será que não te apercebeste que hoje não estou bem e que esses teus “berros” estão a provocar enormes danos no meu cérebro!”.

Nada disto chegou a acontecer, como podem imaginar. A “cobarde” fugiu na minha frente seguindo a sua marcha, não se apercebendo que tinha acabado de ignorar um paciente.
Só tive oportunidade de, interiormente, arremessar um chorrilho de asneiras que, de certa forma, me aliviou. Puro engano!

Voltei a concentrar-me e segui novamente o meu caminho.
Minutos depois, ao passar debaixo de um dos edifícios desta “minha avenida”, sou atingido no pescoço por várias gotas de água. Olho, furioso, para cima e reparo que essa água fria e suja está a cair de um canteiro.
Não é que alguém, com um “fantástico” sentido de oportunidade, achou que aquele era o melhor momento para regar as suas flores!
Sem se aperceber, aquela criatura malvada tinha também acabado de regar um “cacto” cheio de espinhos, prontinho para atacar sem piedade o autor deste atrevimento.
Ahhh!! Como me incomodou sentir aquele líquido a escorrer do meu pescoço em direcção às minhas costas!
É claro que este desagradável acontecimento voltou a mexer, profundamente, com os meus nervos!
Senti vontade de subir até ao 3º andar, irromper pela casa daquele monstro florista e “plantá-lo”, até ao pescoço, no seu vaso e perguntar…Vai um banhinho?

1, 2, 3,….inspira profundamente…acalma.

Um café! Era isso, precisava de me sentar um pouco num café para comer e beber alguma coisa aconchegante. Talvez um “carinho gastronómico” fosse a solução para todo o meu “mau feitio”. Pensava eu...que ingénuo!

Esse local estava ali, bem na minha frente. O “Café Magnólia” do cinema Londres.
Desci as escadas, já a pensar no que iria solicitar à menina da caixa, quando me deparo com uma enorme fila de gente à minha frente para, tal como eu, fazerem também os seus pedidos. Eram só quatro pessoas, eu sei, mas para mim, neste dia particular, aquele número representava um engarrafamento de 4 quilómetros! Perdi, imediatamente a vontade de receber os carinhos adocicados.

Solução…corri para a rua a caminho de casa.

Antes de tudo isto acontecer, já tinha tido a sensação de estar a ser observado pelas pessoas que se iam cruzando comigo na “minha avenida”.
Isso aconteceu por duas vezes, com duas meninas de cerca de 25 anos, que em momentos diferentes trocaram olhares prolongados comigo.
Será que transportava comigo alguma expressão que estava a chamar a atenção das pessoas, em particular destas duas bonitas jovens?
Seria a minha fraca imagem?
Seria a t-shirt que estava a usar naquele momento? (a minha t-shirt vermelha estampada com um peixinho amarelo, de olhar “lady killer” e cheio de auto-estima, e onde se pode ler a seguinte mensagem: Charming Fish – Sculptured Hot Body, Home Service, No Rush)

Seria disto?
Não me parece, os seus olhos nunca se desviaram para a minha roupa.

Já em casa, depois de a escuridão ter ocupado todos os espaços da “minha avenida”, senti que continuava ainda estranho. Tinha, urgentemente, que me distrair com alguma coisa. Tinha que sair do meu mundo e entrar, naquela noite…naquele dia…naquele fim-de-semana, na narrativa de alguém.
Não encontrei. Ao meu redor todas as histórias foram já contadas.

Resolvi, por isso, regressar novamente à rua, na esperança de que a “minha avenida” tivesse já feito as pazes comigo.
Ao virar uma das esquinas, ela apareceu bem na frente dos meus olhos. Tinha, finalmente, encontrado uma fábula, uma companhia, um sonho para aquela noite.
Entrei, sem hesitação. Aquele local esperava já por mim, para me contar ”Os Homens que Odeiam as Mulheres”.


“Continuem a frequentar estas areias…”

1 comentário:

Anónimo disse...

Depois de tanta conversa, faltou mencionares para onde é que essas duas bonitas moiças de 25 anos estavam a olhar....não queres dizer? se calhar era mesmo para o tal peixe......
Abraço,
N